A principal mensagem do livro VENCEDORAS POR OPÇÃO de Jim Collins, reconhecido autor, em conjunto com Morten T. Hansen, apresentam uma nova fórmula inspirada em líderes
que não consideram o atual período turbulento em que vivemos como
fator determinante para o fracasso.
Os
líderes devem ser paranoicamente produtivos, empiricamente criativos e
fanaticamente disciplinados.
Em
1911, Ronald Amundsen e Robert Falcon decidiram formar duas expedições
numa tentativa de serem os primeiros exploradores a atingir o Polo Sul.
“Ao
longo da viagem, Amundsen aderiu a um regime de progresso consistente,
nunca indo longe demais com boas condições atmosféricas, cuidadoso o
suficiente para se manter afastado da linha vermelha da exaustão a que
poderia expor a sua equipa, mas sem deixar de pressionar a manutenção do
ritmo mesmo em condições desfavoráveis. Amundsen estabeleceu um limite
entre 15 a 20 milhas por dia de avanço e quando um membro da equipa
sugeriu que poderiam ir até às 25 milhas, o líder respondeu
imediatamente que não. Todos precisavam de descansar e de dormir para
reporem continuamente as energias.
Em contraste, Scott haveria
de levar a sua equipa à exaustão nos bons dias, sendo obrigado a ficar
seguidamente na tenda, queixando-se do mau tempo. No início do mês de
Dezembro, Scott escrevia no seu diário sobre o facto de ter sido
obrigado a parar por causa de um enorme nevão: ‘duvido que qualquer das
equipas consiga avançar com estas condições’. Mas quando Amundsen
enfrentou condições similares às de Scott, escreveu no seu diário: ‘hoje
tem sido um dia desagradável: tempestade, desvios, algumas queimaduras
por causa do frio, mas conseguimos avançar mais 13 milhas”.
Amundsen
chegou ao Pólo Sul, com uma média de 15,5 milhas percorridas por dia.
Scott e a sua equipa nunca viriam a atingir o objectivo, acabando por
morrer no caminho.
Esta é a metáfora organizativa escolhida por
Jim Collins, em conjunto com Morten T. Hansen, o livro –
Vencedoras por opção – uma sequela do
empresas feitas para vencer – que,
com base numa pesquisa de quase uma década e premonitória relativamente
aos tempos conturbados da actualidade, elegeram um conjunto de empresas
cujos líderes conseguiram navegar em mares turbulentos de forma
excepcional. Como afirma Collins, “ [estes líderes] não se limitam a
reagir, mas a criar. Não se limitam a ter sucesso: prosperam. E
constroem grandes empresas que perduram no tempo. Não acreditamos que o
caos, a incerteza e a instabilidade sejam benéficos: empresas, líderes,
organizações e sociedade não florescem através do caos, mas podem
fazê-lo no caos”.
Para o estudo, os autores escolheram, em 2002,
um conjunto de grandes empresas que atingiram resultados significativos
ao longo de 15 ou mais anos, enquanto operavam em ambientes instáveis.
Denominadas como 10Xers - por terem um retorno para os accionistas pelo
menos 10 vezes superior ao dos seus pares na mesma indústria – os
autores elegem estas empresas (apesar de uma delas ter, entretanto, ido à
falência, a Circuit City e a outra, a Fannie Mae, estar “por conta”
governo norte-americano) não só porque se tornaram extremamente
bem-sucedidas, mas porque floresceram verdadeiramente.
E por que
motivo é que estas 10Xers atingiram estes resultados espectaculares,
especialmente em comparação directa com outras a operar nos mesmos
ambientes, tumultuosos, de aceleração ultra-rápida e imprevisíveis – e
as outras não? Parte da resposta reside nos comportamentos distintivos
dos seus líderes.
Motivo pelo qual Jim Collins, conhecido também
por ser uma alpinista de renome, ter comparado a forma como os
exploradores Amundsen, o vencedor, e Robert Falcon Scott, o perdedor,
conduziram as suas expedições, em circunstâncias análogas e no mesmo
ambiente extremo. Um líder conduziu a sua equipa à vitória e à
segurança. O outro ao fracasso e à morte. E o que acontece é que os
líderes de negócios do estudo realizado pelos autores se comportaram
muito como Amundsen e, os que a eles se compararam, negativamente, como
Scott
se encontrava no grupo das empresas que não conseguiam prosperar e que,
anos mais tarde, viria a representar um dos mais bem-sucedidos
volte-faces do mundo dos negócios).
“Amundsen e Scott alcançaram
resultados dramaticamente diferentes não porque tenham enfrentado
circunstâncias dramaticamente diferentes. Nos 34 primeiros dias das suas
respectivas expedições (…) ambos tiveram exactamente o mesmo rácio: 56%
de dias de bom tempo. Se enfrentaram as mesmas condições atmosféricas,
no mesmo ano, e com o mesmo objectivo, as causas dos seus respectivos
sucesso e fracasso não podem ser atribuídas simplesmente ao ambiente que
enfrentaram. Os resultados foram divergentes principalmente porque,
enquanto líderes, optaram por comportamentos completamente diferentes”.
O mesmo aconteceu aos líderes escrutinados.
A marcha das 20 milhasPara
Collins e Hansen, o pensamento mais perigoso da gestão actual é a ideia
de que os resultados são fundamentalmente determinados pelo acaso ou
por forças que estão fora do nosso controlo. E se vivemos numa altura em
que é difícil pensar em atingir um grande sucesso, quando só queremos é
sobreviver, os autores prometem oferecer uma nova fórmula para o
atingir em tempos conturbados.
Tal como Amundsen e a sua equipa,
os líderes 10Xers e as suas empresas utilizam a “marcha das 20 milhas”
como forma de exercerem autocontrolo, mesmo quando temem ou são tentados
pelas oportunidades. Ter em mente esta marcha ajuda à concentração,
porque todos os membros da equipa – tal como os alpinistas exploradores -
sabem quais os “marcadores” que têm de atingir e a sua importância,
mantendo-se sempre no caminho a trilhar.
E, para os autores, este método de liderança consiste num excelente ponto de partida.
Os
mercados financeiros estão fora do seu controlo. Os clientes também. As
alterações climáticas idem. A concorrência global também está fora de
controlo. Bem como as mudanças tecnológicas. Na verdade, quase tudo está
fora de controlo. Mas com a marcha das 20 milhas, é possível ter-se um
ponto de concentração tangível que o mantém a si, líder, e à sua equipa,
a andar para a frente, apesar da confusão, da incerteza e até do caos.
Para a compreender, urge enunciar as formas mediante as quais estes 10Xers se distinguiram dos demais.
Em
primeiro lugar, abraçam o paradoxo do controlo e o do não controlo. Por
um lado, os 10xers compreendem que enfrentam uma incerteza contínua e
que não conseguem controlar, nem prever com acuidade muitos aspectos
significativos do mundo que os rodeia. Mas, por outro lado, rejeitam a
ideia que as forças que estão fora do seu controlo ou que os
acontecimentos fortuitos sejam determinantes para os seus resultados.
Estes líderes aceitam também total responsabilidade pelos seus próprios
destinos e não se limitam a culpar as forças exteriores pelos seus
fracassos. E todos gerem as suas equipas com um surpreendente método de
autocontrolo num mundo completamente descontrolado, sem esquecerem
igualmente uma ambição feroz e que mantêm tenazmente na denominada
“marcha das 20 milhas”, explicada anteriormente na analogia com a
exploração ao Pólo Sul.
Para os autores, saber trilhar este
caminho ajuda a dar a volta a uma situação indesejada. Em primeiro
lugar, porque aumenta a confiança dos líderes no que respeita à sua
capacidade de funcionar bem em circunstâncias adversas. “A confiança não
provém de discursos motivacionais, da inspiração carismática, de
optimismos desmedidos ou da esperança cega (…). Terminar a marcha das 20
milhas, de forma consistente, em boas e más alturas, é que consegue
aumentar a confiança. Feitos tangíveis em tempos de adversidade reforçam
a perspectiva dos 10Xers: ‘somos sempre responsáveis por aumentar a
nossa performance. Nunca culpamos as circunstâncias nem o ambiente que
nos envolve’”.
Em segundo, a “marcha” reduz a probabilidade de
catástrofe quando se é atingido por uma disrupção turbulenta. “Num
ambiente caracterizado por imprevisibilidade, repleto tanto de ameaças
como de oportunidades, não é possível o líder dar-se ao luxo de se
manter exposto a acontecimentos imprevistos. (…) E se até é possível não
se cumprir, durante algum tempo, a marcha das 20 milhas em períodos
estáveis, se o fizer continuamente, acabará por ficar fraco e
indisciplinado e, por isso, muito mais exposto e vulnerável quando os
tempos instáveis chegarem”.
Por último, a marcha das 20 milhas ajuda o líder a exercer o seu autocontrolo num ambiente descontrolado.
Criatividade + disciplina + paranóia Iniciado
que está o caminho para os exploradores neste ambiente escarpado e
tempestuoso, a fórmula desenvolvida pelos autores com base na sua
auscultação às empresas e respectivos líderes vencedores, teve origem
numa viagem ambiciosa para identificar e estudar esse grupo seleccionado
de empresas. “Começámos por encontrar empresas que foram criadas em
tempos de vulnerabilidades, que se transformaram em empresas excelentes
com uma performance espectacular e fizeram-no em ambientes instáveis,
caracterizados por forças gigantescas, fora do seu controlo, em rápido
movimento, incertas e potencialmente prejudiciais. De uma lista inicial
de 20.400 empresas, dividimo-las em 11 estratos/camadas para identificar
aquelas que iam ao encontro dos nossos testes. E apenas sete
corresponderam aos desafios”.
Jim Collins começa por explicar o
que não encontraram a mais nos líderes “vencedores” comparativamente com
os seus pares: “Não eram mais criativos. Não eram mais visionários. Não
eram mais carismáticos. Não eram mais ambiciosos. Não eram mais
abençoados pela sorte. E não eram mais ousados no jogo do risco. Claro
que os autores não pretendem dizer que os 10Xers não eram intensamente
criativos, ou ferozmente ambiciosos ou temerosos. Todos eles tinham
estas características, mas o mesmo acontecia com os seus pares em
comparação. Então, e mais uma vez, o que os distingue? Os 10xers
utilizam uma tríade de comportamentos por excelência: a disciplina
fanática, a criatividade empírica e a paranóia produtiva.